sábado, 21 de novembro de 2009

LA TRAVIATA – Royal Opera House, Londres, Julho 2009

La traviata, de Giuseppe Verdi, é uma das óperas mais conhecidas e populares. A música é de grande beleza e de crescente intensidade dramática. A história é de uma cortesã da burguesia parisiense, Violetta Valéry, que é apresentada num baile ao jovem Alfredo Germont, que se apaixona por ela. Violetta está doente, com tuberculose, vai viver com Alfredo para fora de Paris, vendendo os seus bens para sustentar a sua nova vida. O pai de Alfredo, Giorgio Germont, convence Violetta a abandonar o filho, para não manchar a reputação da família. Violetta retoma a vida de cortesã e, numa festa, encontra-se com Alfredo que a ofende publicamente. No final, Violetta está na miséria e às portas da morte. É perdoada por Alfredo e pelo pai que regressam à sua presença mas, dizendo que se sente melhor, não resiste à doença e morre.

A produção da Royal Opera House é sumptuosa e de bom gosto, exuberante nos cenários, guarda roupa e adereços. A encenação, de Richard Eyre, culmina num último acto inexcedível no retrato da miséria final em que a protagonista se encontra. A orquestra, dirigida por Antonio Pappano, esteve soberba, com especial destaque para as cordas.
Violetta Valéry foi interpretada por Renée Fleming, uma cantora que tem uma voz cremosa e bonita, está fisicamente óptima para a idade e é uma das várias intérpretes actuais que, para além de cantarem, são bonitas. Tem uma figura muito adaptada à personagem. Cantou bem, muito bem, mas achei que está a começar a fase de declínio. Por vezes revela dificuldades em respirar, também ocasionalmente, quando inspira, o início das notas soa feio. E as notas mais agudas nem sempre são atingidas com a pujança necessária. A leitura que faz do papel não é a que mais gosto, mas faz umaVioletta aceitável mas sem deslumbrar. Foi a mais aplaudida pelo público, mas para mim esteve longe de ser a melhor em cena.
Joseph Calleja foi Alfredo Germont e foi a grande surpresa. Vinha mal impressionado por opiniões menos favoráveis a seu respeito, mas fiquei deslumbrado. Apesar de não ter a figura do galã perfeito, a voz é impressionante! Muito expressiva, com uma potência inigualável num tenor, não falha nenhuma das notas mais agudas, não quebra na potência e não grita. Na precisão e exactidão das notas, parece uma máquina! Para mim, valeu a récita. O público também o reconheceu.
Thomas Hampson fez um Giorgio Germont credível e também esteve acima das minhas expectativas, pois vira-o recentemente a gritar mais do que a cantar. Sem aquele toque de magia que esperamos sermpre, esteve bem e seguro, nunca desafinou nem falhou, apesar de não ter sido genial. Contudo, deve ter-se ouvido bem mesmo na última fila do anfiteatro.
Finalmente uma palavra sobre o público. Desta vez e pela primeira vez em Londres, pensei que estava noutro local. Assistência indisciplinada, com grande impulsão para aplaudir (o que não tem nada de errado quando os cantores o merecem), mas aplaudindo vezes em excesso e, sobretudo, não deixando acabar a música. Deverá ser o preço a pagar quando se ouvem óperas muito populares, como é o caso de La traviata.

Esta produção está disponível em CD e DVD. A interpretação superlativa, cénica e vocal, de Angela Gheorghiu, associada à também insuperável direcção de Sir Georg Solti, ilustram bem a emotividade da obra no seu esplendor.

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