sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Wagner, Berg, Mahler & Schubert – Fundação Calouste Gulbenkian – 4 de Novembro 2010

O maestro Lawrence Foster abriu o concerto de hoje, no palco da Gulbenkian, com um muito íntimo Idílio de Siegfried de Richard Wagner. Imagino realmente o que Cosima terá sentido ao acordar com este trecho musical de beleza e serenidade tão profundas. Com um final tão relaxante pergunto-me: “Porquê a ânsia do aplauso?!” Deixem que a música viva e assente no vosso espírito, escutem o silêncio pós obra, espectadores da Gulbenkian!



Perdoem-me aqueles que adoram música do século XX mas, para mim, dodecafonismo, atonalismo e outros ismos do género não encontram formatação (pelo menos ainda) no meu cérebro e no meu coração. Foi-me algo penoso escutar o Concerto de Câmara de Alban Berg...

A segunda parte iniciou-se com os Funf frühe Lieder de Mahler com a orquestração de Luciano Berio. O solista foi o barítono Detlef Roth. Dotado de clássica voz de barítono, timbre bonito, voz expressiva, fez-me lamentar não ter apostado em ir a Genebra, em Março deste ano, e ouvir o Parsifal em cena. Fez de Amfortas e presentemente é o Amfortas na produção de Bayreuth. Esperemos pela transmissão da Antena 2 para avaliar a sua capacidade interpretativa neste papel wagneriano.



A acabar, Foster ofereceu-nos uma obra que frequentemente tem trazido ao palco da Gulbenkian: a 8ª sinfonia de Schubert. E compreende-se a razão. Apesar de incompleta, encerra talvez os andamentos mais líricos das 9 sinfonias do compositor. A Orquestra da Gulbenkian ao seu mais alto nível encerrou um concerto mais do que agradável.



Gravações recomendadas para o Idílio de Siegfried e para a 8ª Sinfonia:







Wagner, Berg, Mahler & Schubert - Calouste Gulbenkian Foundation - November 4, 2010

The conductor Lawrence Foster opened the concert today with a very intimate Siegfried Idyll by Richard Wagner. I can only imagine what Cosima felt when she woke listening to this piece of music so full of profound beauty and serenity. With a final so relaxing I wonder: "Why the eagerness of applause?" Let the music live and settled in your spirit, listen to the silence at the end, my Gulbenkian listeners!



Forgive me for those who love music of the twentieth century, but to me, dodecaphonism, atonalism and other “isms” of the kind are not formatted (at least yet) in my brain and my heart. It was somewhat painful to listen to the Chamber Concerto by Alban Berg ...

The second half began with the Funf frühe Lieder of Mahler's with orchestration by Luciano Berio. The soloist was the baritone Detlef Roth. Featuring a classic baritone voice, beautiful tone, expressive voice, he made me regret my absence at the Geneva Parsifal early this March. He played Amfortas and he is currently the Amfortas of the Bayreuth production also.



At the end, Foster gave us a work he has often brought to this stage: the 8th Symphony of Schubert. And we understand why. Although incomplete, it contains perhaps the most lyrical movements of the nine symphonies of the composer. The Gulbenkian Orchestra was at its highest level concluding a more than pleasant concert.



Recommended for recordings of Siegfried Idyll and the 8th Symphony:



5 comentários:

  1. Deve ter sido um excelente concerto. Compreendo (mas atenção que compreender e aceitar são coisas diferentes...) que não seja muito dado ao dodecafonismo, atonalismo, e outros ismos. É um dos males de quem aprecia música nesta época.
    Porquê um "mal"? Bem, parafraseando as palavras de Isabel Soveral e Miguel Azeguime (por quem nem nutro especial simpatia), aqui há umas semanas, no programa Câmara Clara, até finais do século XIX e início do XX o público ouvia maioritariamente música do seu tempo, "contemporânea", portanto. Porém, com o advento da gravação, o ser ouvinte foi-se prendendo à música do passado, tanto mais que lhe era desconhecida, apreciando-a, e deixando de acompanhar a evolução (radical) da música do seu tempo, logo desde a época da Primeira Guerra.
    Reconheço, contudo, que somos seres tonais, pois o ritmo do nosso corpo assim nos fez, daí que nos custe muito mais entrar em algo que parece tão "deferente". Lembro-me de assistir na Gulbenkian a um quarteto de cordas a tocar Emanuel Nunes e, mesmo a mim, me ter custado.

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  2. Caro wagner_fanatic,
    É sempre um prazer ler os seus textos. Devo confessar que partilho consigo o pouco entusiasmo com grande parte da música do século XX. Também não estou ainda preparado para ela.

    Caro Gus,
    Obrigado por este seu contributo, igualmente rico. Vi o programa Câmara Clara que refere e achei interessante a argumentação, mas confesso a minha enorme limitação em não conseguir apreciar a beleza da música atonal. Já tentei várias vezes ao vivo (porque em CD a desistência é quase imediata) mas nunca consegui que despertasse em mim uma emoção gratificante. Ainda tenho muito que aprender mas, neste caso, não está a ser nada fácil!

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  3. Caro Fanático Um,
    Nem tudo o que é atonal ou dodecafónico ou contemporâneo é bom. Já me digladiei com verdadeiras xaropadas. E sim, em CD muitas vezes o resultado é ainda mais contraproducente. Lembro-me de ter adorado assistir ao Le Grand Macabre do Ligeti no São Carlos, mas logo pensei: se tivesse de ouvir aquilo em CD, duvido muitíssimo que aguentasse mais do que 20 minutos.

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  4. Eu cá fui ver hoje. Idílio com dinâmicas pouco trabalhadas pelo Foster (então nas reminiscências de Tristão e Isolda....), mas sempre de profundíssima linha melódica e uma das mais belas obras de Wagner, se bem que dê tempo para "um animal nascer, viver e morrer" (diz o blogger). Senti o mesmo quanto aos aplausos! Acabou, e eu queria ouvir o silêncio mais um bocado, mas o próprio Foster cortou a melodia do silêncio com o típico gesto do "acabei". Afinal, uma obra destas requer sempre uma reflecção silenciosa e ociosa. Parece que o silêncio faz parte da música. Wagner consegue incorporar o nada (forma de perfeição, na minha filosofia) na música, tornando os dois intrínsecos e inseparáveis, mas subentendidos. :-)
    Quanto ao Berg, comentei isso mesmo e do mesmo modo com a minha companhia. Eu jamais compraria isto em CD, e estou convencido que não devo compreer isto hoje; mas tenho notado neste repertório grandes traços de modernidade: não há nenhuma orquestração leve tipo bel canto, nem nada muito pesado. É estranho, mas eu não desgosto :-) Mas acho que ainda assim não devo compreender a ideia toda.
    Wagner_fanatic, ontem, não deram encore com um número do Anel? Hoje não, mas ouvi claramente uma trompa(?) a tocar lá de trás um dos motivos que corresponde ao finale do Ouro do Reno.

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  5. Caro Plácido,

    Saí assim que acabou a 8ª sinfonia. Não sei se deram algum extra depois.

    Cumprimentos musicais.

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