sexta-feira, 30 de março de 2012

Paixão segundo São João, Johann Sebastian Bach – Fundação Calouste Gulbenkian, 29 Março 2012


(review in english below)

Bach foi o meu primeiro compositor idolatrado. Acompanhou praticamente todo o meu percurso, infelizmente incompleto, de estudos musicais, em grande parte devido ao facto de ter estudado um dos instrumentos para os quais muita da sua obra foi escrita – o Órgão.

Um dos meus professores disse-me uma vez que, quando eu começasse a dar uma hipótese a Mozart, Beethoven, Wagner e outros, a minha fixação em Bach esvaneceria. Bem, isso realmente aconteceu mas Bach continua a ter um papel importante naquela que considero a “minha música”. Contudo, a Paixão segundo São João, ao contrário desse grande monumento musical que é a Paixão segundo São Mateus, nunca foi uma das minhas obras favoritas do Mestre. Com a quase certa controvérsia por parte de muitos os que possam ler esta crítica, esta obra tem essencialmente 2 árias de beleza menos comum e nem mesmo as secções corais estão ao maior nível de Bach. Nunca a tendo ouvido ao vivo, decidi aceder a este convite “pago” da Fundação Calouste Gulbenkian. Em três dias seguidos, possivelmente procurando fazer alguma metaforização cristã, esta Paixão sobe ao palco da Fundação, numa tradição antiga e, mais uma vez, com Michel Corboz a dirigir.





A interpretação que mais me marcou foi a de Werner Gura como narrador. Voz fantástica, timbre espectacular e uma presença em palco demolidora, embora não cante mais do que recitativos.





Marie-Claude Chappuis, regressando depois do seu papel em La Finta Giardiniera, marcou, mais uma vez, pela beleza de timbre, afinação irrepreensível e dinâmica de interpretação.





Fernando Guimarães esteve muito bem. Quer à frente no palco, quer atrás da Orquestra, a sua projeção vocal é excelente, permitindo (ao contrário do que já se ouviu na Gulbenkian esta temporada por parte de outros cantores portugueses) ouvir claramente as suas intervenções, todas dotadas de profunda entrega interpretativa e um som limpo e agradável.





Charlotte Muller-Perrier não me surpreendeu muito mas cumpriu com qualidade o seu papel.





O Jesus de Stephan MacLeod foi claramente fraco, com uma inconstância de timbre, por vezes com alguma rudeza de catarro na voz, e uma postura em palco algo apática, sem expressão facial.





Michael Shopper foi outro dos pontos negativos, no meu ponto de vista. Um baixo com uma voz feia, cantando com uma expressão facial de terror, como se cada nota fosse um sofrimento, como se alguém lhe estivesse a picar com uma agulha e procurasse a voz na nuca.





O Coro esteve, como habitualmente, muito bem e a direção de Corboz foi agradável e sem invenções.

Esperemos que, a manter-se a tradição, se possa ouvir, no próximo ano, a Paixão segundo São Mateus, ou quem sabe, se a possibilidade de escutar ambas as Paixões e a Oratória da Páscoa BWV 249.



St John Passion, Johann Sebastian Bach - Calouste Gulbenkian Foundation, March 29, 2012





Bach was my first idolized composer. He was present in almost all my, unfortunately incomplete, musical studies, largely due to having studied one of the instruments for which much of his work was written - the Organ.

One of my teachers told me once that when I started to give a chance to Mozart, Beethoven, Wagner and others, my attachment to Bach would fade. Well, that really happened but Bach continues to play an important role in what I consider "my music". However, the St John Passion, unlike that great monument of music that is the St. Matthew Passion, was never one of my favorite works of the Master. With the risk of my statements being highly controversial to who might read them, this work has essentially two arias of great beauty and even the choral sections are not in Bach’s highest level. Never having heard this work live, I decided to go to this "paid" invitation from the Calouste Gulbenkian Foundation. In three consecutive days, possibly trying to do some Christian metaphor, this Passion takes the stage of the Foundation, in an ancient tradition and, once again, directed by Michel Corboz.



The interpretation that most impressed me was from Werner Gura as the narrator - fantastic voice, with a devastating tone, and a spectacular stage presence despite singing only recitatives.





Marie-Claude Chappuis, returning after her role in La Finta Giardiniera marked, once again, by her the beauty of tone, faultless pitch and dynamic interpretation.





Fernando Guimarães was very good. Whether on stage in front or behind the orchestra, his vocal projection is excellent, allowing (unlike what has been heard at the Gulbenkian this season from other Portuguese singers) to perfectly hear his voice, all endowed with deep interpretative delivery and a clean and beautiful sound.





Charlotte Muller-Perrier did not surprise me much, but she fulfilled her role with quality.





The Jesus of Stephan MacLeod was clearly weak, with an uncertainty of tone, sometimes with some harshness in the voice with phlegm, and a somewhat apathetic attitude on stage, without facial expression.





Michael Shopper was another negative point, in my view. One down with an ugly voice, singing with a facial expression of terror, as if each note were in pain, as if someone was poking him with a needle and as if searching his voice on the back of his neck.





The choir was, as usual, very well and the direction of Corboz was pleasant and without inventions.

In order to maintain the tradition, I hope we can hear the St. Matthew Passion next year, or maybe both the Passions and also the Easter Oratorio BWV 249.

6 comentários:

  1. Caro wagner_fanatic,
    Obrigado por este seu relato tão ilucidativo. Não vou ter oportunidade de assistir, mas penso ter ficaado ilucidado com a sua descrição. Pessoalmente também gosto mais da Paixão segundo São Mateus, mas quer esta, quer a Paixão segundo São Marcos são também muito do meu agrado.
    Cumprimentos musicais ao organista!

    ResponderEliminar
  2. Excelente crônica!
    o fato da apresentação não ter sido muito boa e a obra em si não ser das mais empolgantes suscitou a criação de um texto de primeira com "alfinetadas buscando som na nuca"
    Parabéns e um abraço do Brasil

    ResponderEliminar
  3. Obrigado, António! Saudações para o Brasil.

    ResponderEliminar
  4. Nice sunday morning my friends! Thomas kirche,Leipzig(germany)this week on my programm,
    next and toghether with Bach...
    Greetings ,Willy

    ResponderEliminar
  5. Fanaticoo..dear Fanatico.. look at this.. I suggest you specially.. very beautiful fotos... just for you..

    http://portfolyo.objektiffoto.com/?uye=tarkan%20sereng%FCl

    regards..

    ResponderEliminar
  6. Caríssimos,

    Tive oportunidade de ir assistir à récita de Sábado.
    Tal como o Wagner-fanatic, esta Paixão está longe de ser a minha preferida.
    Quanto à música ouvida: o coro da FCG esteve em óptimo plano, como é seu apanágio, bem como a orquestra dirigida por Corboz; MacLeod foi mediano, não encantou em qualquer momento; Shopper foi uma tragédia: foi sempre de mal a pior e, creio poder dizê-lo, foi a pior prestação vocal que ouvi na FCG dos últimos anos; Guimarães foi, sem dúvida, a maior surpresa: tem uma voz com um timbre belíssimo, além de que soube projectá-la sempre sem reparos; Gura, como narrador, foi irrepreensível: o melhor da récita; Muller-Perrier e Chappuis apresentaram-se sem deslumbrar: não destacaram por nenhuma característica.

    ResponderEliminar