sábado, 22 de junho de 2013

THE TURN OF THE SCREW, Theatro São Pedro, São Paulo

THE TURN OF THE SCREW - A VOLTA DO PARAFUSO NO THEATRO SÃO PEDRO-SP. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.



A ópera The Turn of the Screw - A Volta do Parafuso de Benjamin Britten é apresentada pela primeira vez na cidade de São Paulo como homenagem ao centanário do nascimento do compositor. Torci o nariz quando vi esse título na programação, no vídeo é uma coisa, ao vivo no teatro a emoção é superlativa. Grande sacada do Theatro São Pedro/SP em montar esse título raro por essas bandas.

Britten é o maior compositor britânico do século XX, sua música é original e com um estilo único. Não cai nos modismos do dodecafonismo, compõe do seu jeito e a sua maneira. A maioria de suas composições operísticas são de câmara e algumas delas tem enorme sucesso internacional.

Britten, foto Internet.

Em The Turn of the Screw Britten utiliza um texto homônimo de Henry James cheio de ambiguidades e mistérios, onde fantasmas aparecem e desaparecem do nada. Não é só de Gasparzinhos que a ópera é feita, temos conotações homossexuais e repressões para todo gosto. Só lembrando que se você fosse homossexual na Inglaterra dos anos 50 podia acabar no xilindró. Musicalmente The Turn of the Screw é um petardo cheio de criatividade, a grande sacada de Britten é ter um tema principal com um núcleo dramático composto por 16 cenas (cada uma associada a um instrumento musical) ligadas por 15 interlúdios. Isso é um pesadelo para os produtores e a contra partida é música de excelente qualidade.

A escalação do elenco para a apresentação do último dia 18 de Junho foi acertada. A gaucha Luísa Kurtz mostrou bela musicalidade vocal, timbre lírico com agudos harmoniosos e interpretação cênica convincente da personagem The Governess. Chimarrão e churrasco fizeram bem ao soprano que teve uma atuação marcante e comovedora. Pena não poder dizer o mesmo de Céline Imbert , o soprano faz uma atuação convincente da personagem Mrs. Grose. Sua voz saiu gritada no primeiro ato e oscilou no segundo, despejava potência vocal sem necessidade, tornando-a agressiva e forçada no pequeno teatro, quer transformar sua voz maior que a personagem.

Cena da ópera The Turn of the Screw, foto internet.

Luciana Bueno fez uma Miss Jessel no ponto, arrebentou com um belo timbre escuro de mezzo-soprano, esbanjou em belos graves e interpretou com grande qualidade artística. Não entendo por que esse talento vocal é tão pouco aproveitado em nossos teatros líricos. O Peter Quint de Juremir Vieira trouxe um timbre com agudos convencionais e consistentes em todos os registros. Os jovens que fizeram Flora e Miles mostraram precoce talento e grande desenvoltura vocal e cênica.

A Orquestra do Theatro São Pedro regida pelo maestro convidado Steven Mercurio fez uma bela exibição. Música em bom volume e som, solos de violino e violoncelo primorosamente tocados e uma musicalidade adequada ao tamanho do teatro proporcionou belas notas aos ouvintes.

A direção de Livia Sabag capta a essência do libreto e com criatividade e algumas ousadias faz uma bela leitura das 16 cenas. Auxiliada pelos cenários dinâmicos de Nicolás Boni, figurinos de Veridiana Piovezan que nos transportam para os campos ingreses e a luz que auxilia o enredo de Wagner Pinto, a concepção de Livia Sabag mostrou todas as tensões e ambiguidades sexuais dos personagens. Diretora de ópera em evolução permanente.


Tenho que falar da qualidade do programa, dois textos informativos introdutórios e a biografia completa dos solistas e produtores em um papel de qualidade fazem que o guardemos para a posteridade.

1 comentário:

  1. Sempre me interessei por ópera mas achava que isso era coisa de filme, mas resolvi procurar... gostaria de ter ido a essa ópera.

    ResponderEliminar