sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

La Bohème, Theatro Municipal de São Paulo

LA BOHÈME COM POLUIÇÃO SONORA E INSPIRAÇÃO EM BALÉ. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.





Capa do programa distribuído no TMSP

O Theatro Municipal de São Paulo apresentou sua última ópera da temporada 2013, La Bohème é um dos títulos mais populares de Puccini, melodias sentimentais e uma história amorosa fazem a mulherada cair nas lágrimas e transmitem uma emoção a cada nota. Quem não se apaixona pelos personagens Mimi e Rodolfo. Que ouvidos não se sensibilizam com os temas dos amantes ou dos boêmios. Muitas óperas já fazem parte do passado, La Bohème tem lugar no futuro e está entre as óperas mais representadas e queridas do público.

Comecemos pelos solistas, Atalla Ayan foi o tenor escalado para a apresentação do dia 10 de Dezembro. Voz magistral, tá difícil encontrar adjetivos para descrevê-la. Sedutora e com agudos cristalinos, limpos e boa projeção. Interpretação cênica equilibrada, um Rodolfo apaixonado e sofrido que mostra sentimentos e emoções reais a cada cena. Alexia Voulgaridou tem um timbre maravilhoso, uma técnica impressionante e sustenta muito bem as notas. Sua voz é de soprano lírico-spinto, escura e densa e se mostra pesada para a personagem Mimi, principalmente no primeiro ato. Vence isso com uma interpretação cênica convincente.


 Cena de La Bohème, TMSP, foto Internet

A Musetta de Michaela Marcu mostrou uma voz sólida, consistente nos graves e interessante nos agudos. Interpretação segura vocal e cenicamente. Conseguiu ser marcante na sua principal ária, desfilou sensualidade e beleza. Os amigões do protagonista fizeram bonito: Simone Piazzolla ( Marcello), Matia Olivieri (Schaunard) e Felipe Bou (Coline) mostraram belas vozes e interpretações adequadas. No Brasil temos cantores aos montes que poderiam fazer esses personagens, não vejo porque trazer gente de fora.

A Orquestra Sinfônica Municipal regida por John Neschling mostrou boa musicalidade e apresentou muitas vezes desequilíbrios entre os naipes. Sonoridade pesada em diversas passagens e lírica em outros. Correta na cena final onde realçou o drama da cena.

A direção cênica, cenografia e desenho de luz de Arnaud Bernard (o homem faz tudo) segue a tendência minimalista. Enclausura a ação em um pequeno espaço no centro palco no primeiro e quarto ato. Seus cenários são realistas e se mostram adequados a obra. O diretor se "inspirou" no balé Cravos de 2005 de Pina Bausch ao colocar flores em todo o solo do palco no último ato, fotos não mentem. Sua luz corresponde e amplia a ação, conversa com ela de forma harmônica. Movimentação dos personagens moderna, no segundo ato utiliza todo o espaço cênica e consegue boas soluções. Figurinos de Carla Ricotti se adequam a obra e fazem o espectador viajar no tempo.


Cravos de Pina Bausch,foto Internet

O problema dele é a poluição sonora, em todas as cenas o nobre diretor faz questão de querer ser mais que Puccini. Coloca na partitura imaginada por ele sons desnecessários. Personagens fecham a porta com força, massas corais fazem uma barulheira com os pés totalmente desnecessária e sempre aqui ou acolá aparece um ruído que sai da cabeça do diretor e vai para o nada. Isso até um geográfo ouve caro John.

Antes que eu me esqueça: O programa distribúido ao público é de excelente qualidade com informações importantes como a tradução na íntegra do libreto, mas a capa, que feiúra é essa! Quando estreia ópera no Theatro Municipal de São Paulo alguém da Revista Concerto sempre aparece, por que será?

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