sexta-feira, 25 de novembro de 2016

NORMA, Royal Opera House, Londres London, Setembro / September 2016


(texto in English below)

Foi com grande expectativa que assisti à nova produção da Norma de V. Bellini na Royal Opera House em Londres. É uma das óperas do belcanto que mais gosto e não saí defraudado.

A encenação de Àlex Ollé (La Fura dels Baus) é vistosa mas bizarra. Toda a acção decorre numa espécie de “templo”. O palco está rodeado, de crucifixos, mais de 1000 no total, assim permanecendo durante toda a ópera. Os druidas vestidos com trajos sugestivos de uma seita religiosa (por vezes fazendo lembrar o Ku Klux Klan) alternando com roupa contemporânea, e os romanos com fardas militares. 



A acção passa-se na actualidade, o que fica bem claro quando, no início do 2º acto, aparecem os filhos da Norma no quarto com uma televisão moderna e com brinquedos actuais, engenhosamente situado por baixo do “templo” onde decorre a restante acção. O momento de maior impacto visual acontece quando a Norma, numa plataforma elevada, canta a Casta diva, enquanto um enorme turíbulo oscila pelo palco espalhando incenso, momento possivelmente inspirado na catedral de Santiago de Compostela.



A direcção musical de Antonio Pappano foi muito boa, orquestra e coro ao mais alto nível.



A soprano búlgara Sonia Yontcheva (substituiu a Netrebko que estava inicialmente anunciada) foi uma Norma assombrosa. A voz é de uma beleza e pureza ímpares, transmitindo de forma muito expressiva todas as emoções da personagem. Sempre audível sobre a orquestra (e o Pappano bem podia ter reduzido o volume) foi insuperável. A melhor da noite e uma interpretação de referencia.



Sem ter uma voz suave como outros tenores de topo, Joseph Calleja foi um Pollione excelente. A voz é enorme, o timbre bem marcado e algo “caprino”, mas para o papel deste militar adequa-se bem. Como sempre, nada falha na interpretação e a emissão parece sem qualquer esforço.



A Adalgisa foi interpretada pela mezzo italiana Sonia Ganassi. Cumpriu sem destoar, teve uma interpretação muito boa, mas não esteve ao nível superlativo da Yoncheva.



Nos papéis secundários todos estiveram bem, Brindley Sherratt como Oroveso, Vlada Borovko como Clotilde e David Junghoon Kim como Flavio.

Vocalmente, uma excelente Norma, numa encenação vistosa mas algo bizarra.





*****


NORMA, Royal Opera House, London, September 2016

It was with great expectation that I attended the new production of V. Bellini's Norma at the Royal Opera House in London. It is one of my favourite belcanto operas and I was not defrauded.

The staging of Àlex Ollé (La Fura dels Baus) is fine but bizarre. All the action took place in a kind of "temple." The stage was surrounded by crucifixes, more than 1,000 in total, and remained so throughout the opera. Druids appeared dressed in costumes suggestive of a religious sect (sometimes reminiscent of the Ku Klux Klan) alternating with contemporary clothing, and the Romans in military uniforms. The action takes place in the present, which was clear when, at the beginning of the 2nd act, Norma’s children appeared in the bedroom with a modern TV and toys, ingeniously located under the "temple". The moment of greatest visual impact occurred when Norma, on a raised platform sang Casta diva, while a huge censer swinged the stage spreading incense, an action possibly inspired in the cathedral of Santiago de Compostela.

Musical direction of Antonio Pappano was very good, orchestra and choir were at the highest level.

Bulgarian soprano Sonia Yontcheva (who replaced Netrebko initially announced) was an amazing Norma. The voice is of a beauty and unique purity, transmitting very expressively all emotions. Always audible over the orchestra (and Pappano could well have reduced the volume) was unsurpassed. The best of the night and a reference performance.

Without a soft voice as other top tenors Joseph Calleja was an excellent Pollione. The voice is huge with a characteristic and peculiar timbre, but in the role of the militar is well suited. As always, nothing fails in his vocal interpretation and the singing always seems effortless.

Adalgisa was interpreted by Italian mezzo Sonia Ganassi. She had a very good interpretation, but was not to the superlative level of Yoncheva.

In supporting roles all were good, Brindley Sherratt as Oroveso, Vlada Borovko as Clotilde and David Junghoon Kim as Flavio.

Vocally an excellent Norma in a fine but bizarre staging.


*****

Sem comentários:

Enviar um comentário